terça-feira, 7 de dezembro de 2010

Pequim, 07 dez (Lusa) – O título da primeira exposição do búlgaro Nedko Solakov na China, “I miss Socialism, may be…” (“Tenho saudades do Socialismo, talvez…”) é provocatório, mas a nostalgia, neste caso, não se resume ao sistema político e económico.
“De facto, eu tenho saudades da minha juventude”, escreveu Nedko Solakov, em inglês, na alta parede branca frente à porta da Galleria Continua, em Pequim.
Numa caligrafia quase adolescente, escrita com marcador de feltro azul, o artista assinala que tinha 31 anos quando o Muro de Berlim caiu e os governos comunistas da Europa de Leste foram derrubados, em 1989.
“Pensava que era já demasiado velho (…) O meu sentido de humor, no entanto, era mais ligeiro e mais alegre”, diz.
A exposição – com pintura e multi-media – está patente numa das dezenas de galerias internacionais abertas em Pequim ao longo da última década e que ajudaram a transformar a China no terceiro mercado mundial de arte, a seguir aos Estados Unidos e Reino Unido.
No primeiro piso da galeria, entre 21 monitores de vídeo espalhados pelo chão, estão instalados nove jogos de coloridos maples, que desenham outros tantos caracteres: “Wo Xian Nian She Hui Zhu Yi Ye Xu” – o título da exposição escrito em chinês.
Um monitor mostra o que resta do mausoléu do mais famoso líder comunista búlgaro, Georgi Dimitrov (1882-1949), demolido na década de 1990.
São imagens de ruínas e abandono, que aos olhos do autor, exibem “o confuso mundo interior de um homem de meia-idade que ainda acredita que um mundo melhor virá, de novo”.
O segundo piso da galeria reúne quinze pinturas, em tela e em madeira, e neste caso, não há “confusão”: “Estas obras de arte têm um único objetivo – serem vendidas”, proclama Solakov.
Aparentemente, trata-se de uma alusão ao singular sistema em vigor na China, um pais governado por um partido comunista oficialmente fiel ao marxismo-leninismo, mas que no início da década de 1990 se converteu à “economia socialista de mercado”.
A Galleria Continua, fundada em San Gimignano, na Toscania (Itália), tem uma filial na "798", o maior “distrito artístico” de Pequim, com mais de 400 galerias, boutiques, livrarias, lojas de design e cafés, que ocupa o terreno e oficinas de um antigo complexo industrial.
É uma zona de 50 hectares, no nordeste de Pequim, reconvertida em 2002 e que segundo uma curadoura europeia, constitui hoje “uma montra do melhor e do pior da arte contemporânea na China”.
Nedko Solakov já expôs em Portugal, no Museu do Chiado, e noutros países, nomeadamente na Bienal de Veneza e na Documento 12, em Kassel, na Alemanha.
De acordo com a Galeria Continua, entre os seus próximos projetos figuram exposições individuais no Reino Unido, Bélgica e na Fundação Serralves, no Porto.

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